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sexta-feira, abril 14, 2017

April

O dia tá esquisito, mas de autorreflexão.

Notei que é segunda ou terceira páscoa em que estou mal. Nada que ver com a páscoa, mas há algo sobre Abril.

O celular está no silencioso; ou estava, acabou de tocar. Novamente está no silencioso.

Tem muita coisa errad que precisa ser corrigida sobre mim e parece que tá tudo junto, então vou escrever o que vier à cabeça, sem muita pretensão de fazer sentido ou contar história.

Preciso recuperar minha senha do flickr, pra continuar aquela história.
Estou escrevendo aqui, para continuar a história.
A história sobre mim. Que, apesar de achar o contrário quase sempre, só interessa a mim.
Preciso parar com essa síndrome de celebridade. Ainda me falta 1 para 400 seguidores no instagram. Sendo a maioria spam gringo não-solicitado. (risos autodepreciativos e vergonhosos por isso?)

Eu poderia fazer um blog novo, pessoal. "Pessoal", rs. Todo mundo tem mania de celebridade.
Eu queria uma coisa nova. Eu achei as fotos do meu feed no instagram muito feias. Escuras ou opacas, sempre com cara de baixa qualidade e a cara da pobreza. Até aí, paciência, sou pobre.
Eu queria um feed novo. Ou um instagram novo. Pra postar comidinhas bonitinhas.

Engraçado.
Ainda hoje li uma fotógrafa que gosto muito falando sobre "não ignorar o passado, o caminho, pois você só está onde está, por conta dele". O que soa muito clichê agora que vi escrito, e em português, mas não passa da verdade.

O que eu ia dizer é que: minhas fotos feias e mal iluminadas (as quais, muitas vezes, as fiz assim intencionalmente, para que ninguém descobrisse minha real identidade fotógrafa, pois sou louca varrida da cabeça...) me inspiram. Eu olho pra elas e tenho ideias, relembro, vejo que posso fazer coisas que não venho fazendo.

Escrever sempre me fez bem. Fiz o AECF para escrever mais livremente sobre esse assunto (comida, ser gorda), desvinculando tudo isso da minha imagem perfeita (que só existe na minha cabeça, visto que não sou alguém famosa e não existe ninguém cobrando absolutamente nada em relação à perfeição de mim.).
Antes desse, tinha outro blog. Que estou tentando acessar nesse momento, para ver se posto este texto lá ou aqui.
O importante é que eu preciso de um espaço.

A verdade é que eu preciso de tantas coisas.
A psicóloga me diz que a compulsão alimentar vem do guardar rancores e sentimentos. Provável.

O que há com Abril? Seria o aniversário da minha mãe, que se torna, então, o meu inferno astral?

Dentre o que preciso, consigo destacar facilmente:

o meu apartamento.
dinheiro.
paz na cabeça.
emagrecer.

temporários imediatos:
parar de comer tanto nessa páscoa. ou em todas, não reparei.
pentear o cabelo.
estudar. não consigo concentrar.
sacudir a semi-depressão que se instalou.

Desde ontem, quando prometi à minha melhor amiga, não estou com muita vontade de me entregar à vontade autossabotadora de comer já aquele ovo de páscoa ali.
Don't get me wrong, não é como se eu tivesse em dieta (até estou, passada pela nutricionista!-mas não estou seguindo), sem comer um chocolatinho sequer.

A compulsão.
Desde sábado passado, comi o total de 3 caixas de bombom, 6 barras de chocolate. Inteiramente sozinha. (B. comeu uns 3 bombons de uma dessas caixas, mas não acredito que conte, não é verdade?)

A psicóloga me pergunta se havia culpa, depois.
Não, lhe respondi.
Mas houve culpa depois de comer uma barra que ganhei no trabalho, inteira, sozinha, no próprio trabalho. Me senti um lixo. Provavelmente por estar "em público" (não havia ninguém perto no momento, só a câmera) e pela possibilidade de ser julgada por isso.

O outro navegador não quer abrir, ainda não tentei logar no outro blog, vou postar isto aqui mesmo.
No fim das contas, tem tudo a ver com emagrecer (não emagrecer).

Eu noto que tenho vontade de me sabotar o tempo inteiro.
Eu desconfio que tenha vontade de postar aqui e não no outro blog, pessoal, para me sabotar.
Eu tenho uma vontade oculta que minhas amigas descubram esse blog e venham aqui ler minhas vergonhas, struggles. Duas amigas específicas. Uma, eu queria até mesmo compartilhar esse blog. A outra, queria que lesse e me julgasse, me achasse patética.

Por que faço isso comigo?

A resposta, eu sei.

terça-feira, março 24, 2015

Sobre meu espaço no mundo

Eu vivo olhando aviões. Aviões passam sempre por aqui. Uns mais baixos, outros bem lá no alto. Morro de medo de todos eles. Meu pensamento funciona da seguinte forma: se eu entrar num avião, é bem provável que eu morra; tipo 99% de chance de morrer e um mísero por cento de sair viva. Tudo isso sabendo que "o avião é o meio de transporte mais seguro", como eles dizem.

Vivo lendo sobre aviões. Aviões fazem parte do plano central do meu futuro. E não bastasse toda a tensão da viagem, do pensamento da turbulência, de ficar sem ar dentro da cabine, de o avião cair e explodir ao se chocar com a água, tem a gordura  sempre tem.

"Gordinhas são barradas em voo nos Estados Unidos"
"Passageiro gordo não cabe na cadeira da American Airlines"
"Obesos pagarão por 2 poltronas em aviões"
"Obeso é recusado em avião, navio e trem"

Essas são só algumas manchetes. Fora o tipo de comentário babaca que se lê por aí:

"O gordo(a) quer sentir prazer comendo até se acabar. Para que algumas pessoas comam demais, outras tem que comer menos ou passar fome, como acontece com quase 1,7 bilhões de pessoas no planeta terra que morrem diariamente por falta de comida (sugiro a leitura de “O mundo não é plano”). Como se não bastasse depois de sentirem um enorme prazer comendo, querem que as demais pessoas se solidarizem com eles e viagem espremidas nos seus assentos em aviões, metrôs e etc. Aliás, no metrô de SP já há vergonhosos assentos para gordos (as). Depois de tudo isso, ainda pagamos a conta deles no SUS, os miseráveis comem, ficam gordos (as), adoecem de tanta gordura e os demais pagam a conta através de seus descontos salariais destinados ao INSS, sem contar que muitas pessoas deixam de ser atendidas na saúde pública, porque na fila tem um (a) gordo(a) na frente porque passou a vida enchendo a pança de porcaria e depois vai procurar o doutor. Daqui a 300 anos estou certo que tem terá direitos e privilégios são aqueles que cuidam da saúde e não os que a negligenciam. Gordos e gordas fechem a boca e mexam o corpo, o planeta e a civilização agradecem." (Comentário em Blog do Turismo)

Pra que tanto ódio?

Ainda bem que há gente sensata, também:

"A obesidade, principalmente a mórbida, é fruto de patologias, senão físicas, psicológicas. Ninguém quer ser gordo, apenas não consegue controlar seu peso. Não cabe à ninguém julgar o motivo nem mesmo querer que a pessoa pague a mais para poder viajar." (Comentário em Blog do Turismo)

Houve um tempo da minha vida, que eu só andava de trem. "Eu prefiro trem! Adoro tem."  Inverdade. Eu adoro trem, verdade, mas o motivo real era: eu entalei sério uma vez numa roleta de ônibus e, desde então, nunca mais tinha sido a mesma.

O causo da roleta aconteceu quando eu tinha uns... 15 ou pouco mais anos. Estava com minha mãe, estávamos voltando do shopping. Nem ela, nem eu: as duas empacaram bem no meio da rodada e foi difícil  e doloroso, não só fisicamente  conseguir terminar de rodar. Vergonha demais.

Andava em ônibus conhecidos, que já sabia que passaria, sem problemas. Um dia, tive que embarcar num outro ônibus e cheguei a ficar com os olhos inundados de medo. Totalmente abalada, coração disparado, tremedeira, à beira de um colapso nervoso. Consegui passar, mas fiquei tentando me acalmar daquele desespero a viagem inteira. Falando em pensar nisso a viagem inteira, jamais pegava aqueles ônibus com uma porta só! Isso significaria a exaustão em torno da roleta duas vezes! Pouco antes de entrar no ônibus, acredito, sofria um efeito baiacu. Tinha que me concentrar em ficar muito, muito calma, pra não inflar e piorar o que já era ruim. Pra ajudar nessas ocasiões, costumava escolher uma roupa de tecido escorregadio, geralmente helanca — que detesto  pra deslizar mais facilmente. Bolsas e casacos, jamais passariam comigo. Nada que me acrescentasse uma camada extra! Se estivesse carregando um ou outro, a ordem era sempre a mesma: passava-os pra mão direita, colocava a mão direita do lado de lá da roleta, espremia a barriga e rodava, de lado. Depois de um tempo, aprendi os truques. Sempre me ajudava. Encolhia a barriga, ficava na ponta do pé e, se fosse uma roleta com um espaço aberto atrás, encaixava a bunda ali  me rendia espaço.

Passei um tempo pegando só os ônibus conhecidos e me abstraindo das memórias do trauma. Até que um dia, em 2008, fui passear pelo bairro da faculdade com uns amigos queridos. Bairro de gente riquinha e metida, exceto por eles, que eram gente boa. Mais uma vez, foi muito difícil rodar. Eles notaram, claro, e eu fiquei com aquela minha cara de louca envergonhada, ao mesmo tempo querendo rir histericamente, fingindo que nada tinha acontecido, ao mesmo tempo de cabeça baixa ou olhando no horizonte das ruas arborizadas, morrendo de vergonha. Daí em diante, foi mesmo só trem e metrô — e o ônibus daqui de perto, o conhecido. Aí inventaram de incluir os obesos na categoria do assento especial dos ônibus. NUNCA, JAMAIS, eu sentaria ali. Porque, claro, ninguém sabia que eu era obesa! Se eu sentasse ali, confortavelmente, todos descobririam! Mesma coisa subir pela porta de trás do busão. Jamais. Muita vergonha. Todo mundo saberia que estava subindo por ali porque não conseguia passar pela da frente. E, além do mais... "Ô, motorista! Pode abrir a porta de trás pra mim, por favor, porque entalo na roleta?" Pensa na humilhação. Tudo isso mudou quando eu emagreci os 35kgs e comecei a andar por todos os ônibus que podia, tirando uma onda que só eu sabia. Hoje também sento no banco de obesos, sem nenhum complexo, na maioria das vezes (mas me faço caber em só um pouco mais da metade do banco, pra mostrar que sou magrinha— "Sou obesa, mas não sou das piores, tá? Olha esse espaço todo pra uma pessoa malnutrida aqui do meu lado! :D").

Eu entendo bem de viajar mal em trem, metrô, ônibus comum, ônibus de viagem (além de gorda, é alta e o infeliz da frente sempre quer inclinar o banco pra ficar confortável, enquanto eu vou criando um câncer no banco de trás, irritadíssima e calada sobre meus joelhos massacrados)... eu entendo bem de tudo que vai mal para gordos. Mas avião, não.

"Ajeitar-me no banco foi uma tarefa relativamente fácil para um gordo acostumado com o design cruel dos assentos de avião. O primeiro passo é deixar o cinto de segurança sobre os braços da cadeira antes de sentar. Depois, ir já de costas na direção de sua poltrona para, com todo cuidado do mundo, ajeitar-se no pequeno espaço. Em seguida, o cinto deve ser estendido até o limite máximo, a barriga deve ser “puxada” e, com sorte, o cinto entra de primeira. Depois, é só ajeitar o tamanho correto e verificar se continua sendo possível respirar." (Texto em Papo de Gordo)

Todos dizem que poltrona de avião (Classe econômica, é claro! Jamais vou pagar 17 mil numa viagem!) é extremamente pequena e desconfortável. Eu fico pensando... e se eu não conseguir prender o cinto de segurança, como sempre na vida, e passar por uma turbulência e quebrar o pescoço ao bater no teto, pois era gorda e estava frouxa? E se o avião cair por minha causa? Pior ainda, e se tiver uns três obesões no avião? E se, antes de tudo isso ter oportunidade de acontecer, não me deixarem embarcar por ser obesa?


Eu não quero ser obesa e quero muito embarcar para o meu grande plano de futuro. Eu vinha tomando isso como incentivo pra continuar emagrecendo e vou voltar a me apegar nisso, nessa nova jornada de reação que se inicia.

"Esteja em forma. Jovens esbeltos têm as melhores chances de sobreviver a um acidente de avião. Enquanto as mulheres obesas têm as piores probabilidades." (Texto em Negócio Digital)

Foto por Flightglobal.com

segunda-feira, janeiro 12, 2015

Novo de novo

Passei o réveillon numa blusa M! Uma blusa M da minha amiga! Sempre quis trocar roupa com amiga. Com essa, também grandalhona, já trocava alguns sapatos. Parece que 2015 vai me trazer trocas de roupas, também.

Não, minha amiga não é obesona. Pelas contas, só obesinha, nível 1, só um pouco a mais do acima do peso. Pessoa normal. Não, a blusa não ficou totalmente ajustada à mim. Um pouco curta demais, com as mangas um pouco curtas demais  pro meu toc de gorda puxando roupa. Mas confortável o suficiente. Principalmente porque é da minha amiga, que é "pessoa normal". Depois, porque olhei a etiqueta e vi que era M. EME! Já usei várias vezes, tô exibindo feito um award!

Nas bobeiras das fotos do réveillon em casa, vi que preciso pegar o jeito das fotos com essa nova cara, mais magra. Mas eu dou um jeito. Sempre dei jeito com a carona gorda, porque não daria com essa?

Tem uma foto, de pouco antes da virada, que lá estou eu: blusinha, shortinho, leve e solta. Nunca usaria shortinho. A última vez que havia usado shortinho, que me lembre, foi na infância. Um short jeans branco, na criancinha de 6 anos, que queria mesmo era usar alguma roupa infantil da moda dos anos 90.  Pois bem, shortinho. Dia desses, saí do armário do shortinho (fui à rua com ele). Deixei pra ir depois que o sol havia se posto, pra evitar toda aquela luz refletindo nas minhas celulites pernais. Também fiz questão de abaixar a cintura do short até um pouco depois do limite do ridículo, pra, além de conferir uma aparência "cagadinha", cobrir mais as pernas. Parecia que eu estava chegando no tapete vermelho com um vestidão. Momentos de tensão! Olhares imaginários em mim! Mostrando as pernocas, lá fui eu... comer na lanchonete. Oops!

Desde o natal, tenho andado comendo desenfreadamente. Terminei o ano com meus 119kgs planejados, mas, daí pra frente, só desastre. Engordei. Cheguei a 125 e tô agora nos 122. Não vou choramingar isso. Na verdade, não quero nem falar disso! Comi sabendo que ia engordar. Faz bem comer às vezes. Comi o mundo. Continuo comendo. Disse que ia parar dia 5, depois dia 10 e agora tô contando em tomar vergonha na cara até dia 15. Pode só ignorar essa parte do post. Acho que tô envergonhada--não, não quero é julgamento.

De uma forma ou de outra, tô com acesso ao instagram mobile de novo, o que é bom. Incentivo! Voltei a comer saudável (mentira! cabei de comer duas taças de sorvete de gordura hidrogenada!) e deixei a nova Dukan pra lá, como planejado   No início de tudo, planejei dois meses de Dukan. Com ela, pulei dos 125 pros 117. Com as comilanças, voltei aos 125. Dois meses de projeto Dukan jogados pro alto! Foda-se!

Desejo a vocês um ótimo ano, cheio de força de vontade, de inspiração, de persistência, de conhecimento, de amor próprio, de emagrecimento, de saúde e do que mais couber a cada um. Vamos fazer valer a pena! Mais um ano, mais uma oportunidade. Façam acontecer. Façam o que nunca fizeram. Façam diferente. Façam melhor. Façam! --Eu, por exemplo, já tô com três médicos marcados. Suuuucesso!

quinta-feira, agosto 28, 2014

É impossível comer um só!

Estava eu lavando louça, naquele momento em que os pensamentos flutuam, e me lembrei desse slogan da Cheetos. Fiquei intrigada.  Eu havia acabado de comer três fatias de bolo, daqueles secos de padaria.

Uma hora antes das fatias de bolo, tinha feito minha refeição certinha e após três horas da anterior: mingau de aveia com coco. Delicinha. Estava satisfeita. Daí, me chega minha mãe com esse bolo e eu vou lá e provo. Três vezes. O assunto hoje não sou eu, nem meus fraquejos (Aliás, tô ótima! Separo os fraquejos em conscientes e inconscientes; isso me ajuda e acalma, de certa forma. Esse foi consciente e logo parei). O assunto de hoje é a propaganda. Que tipo de bosta passa na cabeça dos comerciantes pra incentivar alguém (crianças!) a comer porcaria? Que tipo de bosta tem na cabeça de alguém pra incentivar E ACHAR BONITO a compulsão alimentar? "É impossível comer um só!"  É sim! E o que tem isso? Isso é legal? Isso é algo pra você se gabar?

Veja bem, há algo muito errado com a cultura toda. Assim como as vós costumam achar, tortamente, que uma pessoa magra é uma pessoa de pouca saúde  "Você tá muito magrinha, precisa comer!", a mídia parece incentivar isso também. (...) Do que estou falando? As empresas não estão nem aí pra nada, a única coisa que importa são os lucros. Se eles só soubessem o que uma pessoa pode passar por uma relação descontrolada com a comida...

Eu nunca fui diagnosticada com compulsão alimentar, mas eu poderia me descrever como compulsiva. O caso do bolo de hoje, por exemplo. Não era bom, mas era bom, e eu precisava comer mais! Era impossível comer uma fatia só. Pelo menos tive a decência de parar na terceira fatia e não comer a metade do bolo, como antes.

O slogan não podia ser pior. Estava na dúvida se era slogan do Bis ou do Batom; não era nem um, nem outro. Nesse caso, nem a marca ficou fixada na minha cabeça. Mas, sim, a ideia de ser permitido, legal, divertido e, quiçá, obrigatório comer o pacote inteiro.

Tsc. Tudo errado.



Extra: Tirinha sobre Bis que acabei de achar. Muito precisa. Por Fernanda Nia Ferreira "Como eu realmente"

Beijo pra Ana Preguiça que odeia lavar louça.
Beijo pra todas vocês que comentaram coisas tão gentis no post passado. Obrigada.

sexta-feira, junho 27, 2014

Caminhada, expectativas e sociedade

Estou caminhando há 14 dias consecutivos. Dois meses antes disso, quando dava na telha: raramente.

Todos os dias, visto minha calça frouxa, meu tênis não-de-caminhar, uma blusa qualquer e lá vou eu. Programo o aplicativo no celular pra contar quanto tempo tô caminhando, quantos quilômetros estão sendo percorridos e, teoricamente, quantas calorias estão sendo gastas. Tudo bem, tudo beleza. Quem me vê, não sabe que eu tô caminhando. Sou só uma gorda indo de um lugar a outro, como eu queria que fosse.

Desde que me incentivei a caminhar, desde o primeiro dia, tinha na cabeça: "Ok, eu vou. Mas eu vou disfarçada!" -- Porque ninguém merece a reação da sociedade para com os gordos. Porque EU não mereço, porque VOCÊ não merece! Olha, eu sou gorda desde sempre e eu posso passar longos tempos escrevendo sobre expectativas da sociedade, preconceitos da sociedade, zombarias da sociedade. Mas isso fica pra outro dia.

O que me trouxe a escrever foi a caminhada.

Desde que eu comecei a emagrecer, já são 15kgs perdidos! E poucos, muito poucos, notaram que emagreci. No máximo, "tô te achando mais magra". Porque eu sou gorda demais. E alta. E a gordura tá bem distribuída. Então vai ficar difícil de notar assim, gradualmente. Só quando eu tiver perdido metade de mim, notarão. Mas não importa. De verdade, eu gosto assim. Eu gosto de passar desapercebida. Apesar ser gostoso ouvir que se está mais magra, não faço questão de nenhum semi-conhecido me dizendo "oooolha, como você emagreceu!"  Não, obrigada, dispenso.

Meu problema começa quando: comprei uma legging e um tênis de caminhada, para a caminhada. É agora que fode tudo. É agora que: ou eu continuo, ou eu paro.

Sair pra caminhar, fantasiada nesses trajes, implica em uma série de coisas. Implica na vergonha de sair assim. E implica, principalmente, na expectativa das pessoas. Porque, claro, as pessoas se acham no direito de ter expectativas sobre os outros. Sair pra caminhar, fantasiada, implica em pessoas acompanhando sua vida, julgando o ritmo que você tá caminhando, verificando se você está caminhando todos os dias, cobrando que você perca peso - a pior de todas as implicações! Fora os pensamentos que você sabe que passam na cabeça de uns e outros: "Ih, alá a gorda caminhando!", "Poxa, tá vendo? Ela tá tentando!", "Que bacana, a gorda tá correndo atrás, tá querendo emagrecer!". Urgh. Cadê um lugar bem longe de tudo pra eu ir morar?

E tudo isso, veja bem, porque eu resolvi me vestir adequadamente para caminhar durante 30 minutinhos, todos os dias. Imagina se é a gorda na academia. Olha o bullying!

Tá, de fato nada aconteceu e eu sequer saí com a roupa nova. Mas são muitos anos e muita bagagem gorda nas costas. Eu sei de como as pessoas se comportam com gordos. Elas não sabem que as palavras desnecessárias que elas cospem em você, podem te acompanhar pro resto da tua vida. Mas... é só a sociedade sendo a sociedade, não é verdade? Só tratando mal aquilo que lhe é diferente.

Bom, eu tenho que ir. Apesar dos medos e da vergonha, tô bem animada pra estrear o tênis-de-caminhar!
E hoje pretendo até ir mais longe.

Vamo que vamo.

Eu quero emagrecer pra mim. Não pra ganhar um tapinha nas costas, não pra alegrar ninguém.
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