segunda-feira, outubro 06, 2014

Gordura e osso.

Olhando foto de exatos dois anos atrás, pareço maior. Cheia de gomos de gordura nas costas, pernas que parecem "socadas". Não sei quanto pesava lá, mas fico feliz de estar diminuindo meu espaço físico no mundo.

No espelho, me enxergo menor. Magra, até. Pelo menos, pros meus padrões. Coisa boa. Minhas mãos na minha cintura sentem uma versão menor de mim. Minha cara, mais fina. Dia desses, toquei meu tendão do tornozelo, da parte de trás — descobri aqui no Google que o nome é "tendão de aquiles" — e, pela primeira vez, senti uma coisinha, igual de todas as pessoas que observei na vida. Já não era só mais uma coisa redonda. Falando nisso.

Tocar meu corpo é muito estranho. Eu tendo a ser um pouquinho louca das doenças, combinando isso com o fato de não gostar muito de ir ao médico. Somando à essa equação o fato de não ter plano de saúde e bastante disposição pra protelar na hora de tomar atitudes na vida, tipo correr atrás de um médico público. Mas estou pra resolver isso. O estranho, no entanto, é tocar meu corpo e não saber se aquelas coisas já estavam ali antes, se só nunca senti pela falta de espaço; este, ocupado tão somente pela gordura. Tudo parece estranho. Tecidos estranhos. Ossos. Partes duras. Ossos. É tudo muito estranho e não faço ideia do que seria normal. Não é igual em outras pessoas. É como se fosse um tecido todo danificado, em todas as partes do corpo. Os seios são a pior parte. Acredito que, por terem despencado, talvez tenham, literalmente, saído do lugar. Não sei. É estranho demais. As texturas... tudo. Estou tomando coragem de visitar a dona ginecologista pra me tranquilizar. Essa será, então, minha primeira consulta de pernas abertas. Tenho vinte e quatro anos. (...) Médico de médicos, essas coisas.

A pior parte da gordura sempre foi os outros. Ver os outros. Ser diferente dos outros. Parece um monstro gigante do lado dos outros. Esse mês, tive a oportunidade de tirar uma foto com uma cantora que gosto. A expectativa pra ver como as fotos tinham saído não terminava. Imaginei três mil e uma formas de como a foto poderia sair ruim. Sou boa entendedora de como sair bem e sair mal nas fotos. Era esperado que eu saísse mal.  Ou não. De repente, eu acreditava que poderia sair bem como em um selfie — Mas foi pior! Mesmo tendo imaginado tantas caras e situações que poderiam me acontecer na foto, foi pior! Ugh. A cantora com seus um e sessenta, toda magrinha e pequena. Eu lá, toda gorda e com meus mais de um e setenta e, em uma das fotos, com os ombros caídos. Meu peito empurrando o braço da moça. Meu peito DO TAMANHO do braço da moça. Por que tão grande? Frustrante. Vergonhoso. Embaraçoso! Onde me esconder? E se meus amigos 'de internet', que não me conhecem de corpo, vissem a foto e me identificassem? E se um amigo meu de perto, visse a foto e me marcasse? De novo: tantas possibilidades... nenhuma boa. Euzinha, na minha, só ignorei a foto com a querida da cantora. Não curti, não comentei, não compartilhei. Nada pra chamar a atenção. Não tuitei, não postei a foto cortada/melhorada no instagram. Nada. Aquele momento não existiu.

Eu tenho esse problema, sempre tive: não me vejo gorda como sou  Minha amiga brinca que é uma "anorexia invertida". Me sinto até bem, uma vez ou outra. Me sinto magra, "gorda-aceitável", ok... ou, dependendo do dia, bonita e até sexy. Sexy demais. — Mas não quando me colocam do lado de uma pessoa tão mignon. Tanto tempo eu não tinha essa sensação. É o colégio, tudo de novo. As amiguinhas de classe todas gostosinhas, vestindo 36 com corpão e aquela barriguinha no ponto, sexy, só com o meio levemente saliente e um piercing brilhante pra acompanhar — Fazia sucesso na época. Queria eu ter usado minha barriguinha de fora, feito um piercing tosquinho no umbigo e carregar um furo feio até hoje! (Nadíssima contra piercings, muitíssimo mesmo pelo contrário. O nariz torcido é só com o do umbigo mesmo.)

...E assim eu desperdicei a alegria da foto. Felicidade? Se foi, se perdeu entre tanta apreensão. Aproveitar o momento? Não, não. Uma coisa sobre meet-and-greets: sempre tive medo. Aliás, sempre tive medo de muitas coisas, muitas realidades. A minha vontade sempre foi me esconder dos amigos que "não me conhecem". Pra sempre.  Já deixei de ver gente querida que estava no meu estado. Já fui até outro estado, vi pessoas queridas e deixei de cumprimentar  Ou então, agora que existe a possibilidade real de emagrecer, emagrecer e pronto, viver a vida normal, jamais deixando alguém saber que eu fui gorda.

É como eu disse uma vez: tem tanto pra perder, que até desanima. Olhar de fora, como me senti olhando aquela foto de meio-corpo, e perceber que a mudança visível nem foi tanta assim. Ou foi e, na realidade, o monstro do passado era um monstro ainda mais gordo. Sei lá.

Não estou desistindo, não. Inclusive, estou ótima e feliz por já ter perdido tanto! São só perspectivas... coisas da vida.

E, pra finalizar, acabo de descobrir que a tal da anorexia invertida existe sim! Se chama "gordurexia". (...) Não estou acreditando. Isso me rende outro texto.

23 comentários:

  1. ooi! q post massa, fiquei viajando nessa tua percepção estranha do teu próprio corpo. Simplesmente não dá pra entender se vc se sente bem, ou se ainda tem aquela sensação de aberração... Parece um misto, uma coisa ambígua... mas parabéns por ter conseguido mudar assim, algo que sempre tinha sido do mesmo jeito!!! bjoss

    http://madame-faminta.blogspot.com.br/

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    1. Eu ainda tenho que mudar muuuito, Madame. Eu penso muita besteira pra achar qualquer coisa boa facilmente. A primeira impressão do corpo é preocupação, estranheza. Tirando a parte do emagrecimento, claro. Tocar partes mais magras é ótimo! Tocar partes sequeladas que é difícil, desconfortável, estranho. É como você disse, é misto.

      Mas, vamos indo. Vamos mudando! :) Um beijo!

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  2. Jusuuuuus menina o q é isso em??
    Sou eu, essa sou exatamente eu, já andei observando q todas a minhas fotos são de rosto, eu odeio tirar fotos de corpo inteiro!
    Depois do Selfie então menina tô q tô adorando!
    Tbm tinhs o abito de não me acha gorda "sempre me achei uma gordinha "sexi" Até q comecei a não achar o roupas, até q comecei a ficar cansada e dormir mal! Mas sabes ainda não me acho a pior das gordas, deve ser por isso q minha força de vontade as vezes é pequena!
    Mas é assim mesmo amiga, nada é tão fácil quanto parece!

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    1. É, Ana Paula! Eu vivo de selfie bem antes da época do selfie. haha

      É dífícil aceitar que a gente não é só uma gordinha, difícil abrir os olhos de verdade. Isso que você falou é verdade. Talvez se a gente se enxergasse pior, trabalharíamos mais duramente pra conseguir resultados.... A se pensar.

      Força e bravura pras nós!
      Um beijo.

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  3. Oie lindaaaa!
    Eu entendo você! Mas a questão é, não se comparar as outros, se compare a você mesmo no passado. Veja o quanto evoluiu! Parabéns por toda a evolução!
    Fico realmente feliz que esteja se sentindo ótima =)
    Coloque fotinhos ?!
    Beijo
    Ca

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    1. Esse é um ótimo conselho, sabia? Me comparar a minha mesma no passado. Isso, de fato, ajuda muito.

      Um beijo, Ca. Obrigada pelas palavras gentis. Força pra você! :*

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  4. Cá para mim a outra é que é magra demais! (como se diz em bom português de Portugal).
    Não te conheço fisicamente, Folhinha, mas estou desejosa que isso aconteça, porque és das pessoas mais adoráveis que conheço!
    (Eu já expus a minha magreza, estas a dever-me uma!)
    Aprecia a descoberta do teu corpo, que é lindo, isso dos cânones da beleza é treta! Quanto ir à ginecologista, tenho mais uns anos do que tu e continuo a detestar, mas é importante! Beijinhos e abraços grandes, Folhinha!

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    1. Você é um amor, Ana. Me botou um sorriso no rosto com esse comentário. :') E seria um prazer te conhecer, também!

      Um dia apareço em fotos, pode deixar!

      Um beijo enorme pra você. <3

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  5. Folha, gordura e osso. Disse tudo ai. Li seu post 3 vezes, sim 3 vezes, porque me vi tanto ali, custei a crer que passou/passa por essas coisas, parecia eu em todos sentidos.

    Isso que está fazendo é por demais importante. Além de escrever é se encara, se olhar no espelho, se reconhecer como é verdadeiramente. Não te conheço e aposto que é linda! E sim, a mudança não foi pouca, vc está percebendo se tocando como mudou, as vezes é dificil enxergar até mesmo em foto....aaaahhhh as fotos. tenho quase certeza que não foi justa a comparação, aposto que a artista era de fato muito pequena, ai ficaste mesmo fora do padrão, porque é um mulherão de 1,70 correto? veja tbm por esse lado, não seja dura com vc!

    Muitas vezes deixamos a alegria passar, perdemos o momento por conta do nosso peso, eu mesma encaro como uma punição, a cada engorda, exponho minha fraqueza, minhas falhas, meus pecados, e ai me fecho, me escondo de tudo e todos. O fato é que ainda não se perdoou.

    A única coisa que somos inversas é o habito medico, sou louca por medico, bato o dedo do p[é e lá estou, adoro sair com uma receita na mão, acredito ainda nessa cura...hahahaha, exames ginecológicos de 6 em 6 meses com direito a ultrasson pelvica e mamografia, e isso que não tenho 30 anos ainda mas alegeui o histórico de cancer na familia e já fiz 2 vezes:) sou maniaca por medicos acho que por ano vou umas 40 vezes vixxi....pegar uma carteira de convenio medico na mão foi achar o pote de ouro e ainda sou louca, então isso não é parametro para nada! kkkkkk, fora isso amiga, somos muito parecidas. E te entendo muito!

    Fico muito feliz de saber que está bem, que está vencendo dia após dia e cada dia que passa mesmo com muita dificuldade vai chegar o seu obejitvo, desistir é que não pode!

    Eu já ouvi falar a anorexia invertida, tem um livro que fala sobre isso, fatorexia...eu sofria disso tbm, era obesa morbida e me via gordinha apenas, não era tudo isso que os medicos diziam. ...vai entender.

    Beijos pra vc!

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    1. Já neguei muito e por muito tempo, muitas coisas. Agora está cada dia mais fácil. Inclusive, não fosse por me aceitar, não teria começado a mudar. Disso EU SEI.

      É, sou um "mulherão" de mais de 1,70. Mas se eu fosse magra, a discrepância não gritaria tanto. Eu acho, pelo menos.

      Queria essa vontade toda de médico, haha.

      Mas, como você fala: desistir é que não pode. E isso vale pra tanta coisa... Vou seguindo com esse pensamento.

      Um beijo, Sil querida. :')

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    2. E, ó, consigo sentir o carinho daqui, viu? <3 É recíproco!

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  6. oi Pamela 2 , exatamente isso, você é igual a mim, eu comecei nas redes sociais em 2007 e sempre postei só foto de rosto, e tinha um blog anônimo bem assim como o seu, meu maior medo era que alguém me visse na rua ou em foto de amigos, isso fazia eu excluir pessoas da minha propria familia para conseguir manter aquela vida paralela, esse ano eu percebi que enquanto eu estivesse me dando bem na internet vivendo as escondidas eu nunca iria me focar na mudança, foi ai que tomei a iniciativa mais drástica na minha vida, EXCLUIR minhas redes sociais e me focar só no blog, e é isso que eu tenho feito desde janeiro desse ano e confesso que tirei um peso da consciência, aos 24 anos eu consegui me livrar de uma vida paralela onde eu era linda feliz e amada por milhares de pessoas que eu estava enganando , da uma olhada no meu blog, talvez vc me conheça das redes sociais... beijos flor , ja sinto um carinho especial por vc *-*

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    1. Eu já rodei tanto canto dessa internet, menina... haha. Foto de amigo: pior coisa! Sua atitude é drástica MESMO, mas eu entendo. Já me senti muito confusa e já pensei em fazer isso também. A vida dupla sufoca. Não te conhecia não, mas bom que conheço agora :) Beijo, Pamela!

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  7. Olá, Companheira!
    Maravilha a reta numérica caindo aí em baixo!
    Mais maravilha é seu auto conhecimento, seu auto exame. Você se deu conta de que é perfeitamente possível, e vencerá.
    Vinte e quatro anos... há tempo de sobra para a reviravolta. Com toda esta altura, em breve estará recebendo elogios e olhares admirados!

    Beijos persistentes

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    1. Sempre que mexo na reta numérica lembro de você, sabia? Porque você sempre repara nela! :)

      Quero ficar igual a Ana Hickmann, pode ser? hahaha

      Beijão, Companheira querida. <3

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  8. Não dês demasiada importância! Se alguém te julgar pelo peso não és tu que estás mal, e a opinião de alguém assim não tem importância. Não podes deixar de viver por causa da tua aparência! Há pessoas que são mais bonitas, mais feias, mais magras, mais gordas - sempre irá haver. Em tudo. Ainda por cima há tantas características, físicas e psicológicas, para além do peso... por que é que não lhes dás importância? Se calhar outra pessoa que ligue mais a outra qualidade «inveja-te», assim como tu poderias gostar de ser como ela. Só vês o peso porque é isso que tu não gostas, mas pode não ser isso tudo o que os outros vêm - e não é. Ou pelo menos não devia ser!
    O corpo é estranho por ser teu, também ;) claro que não reparas nos dos outros se não os vês de perto! Não penses em ti como monstro, deformada,... Tens saúde, tens um corpo funcional, não é bom? E de certeza que essas «irregularidades» são ampliadas pelas tuas incertezas!
    Não tenhas medo de ir ao médico! Eu também não gosto, mas sempre que acho necessário vou. Então ao ginecologista, ninguém gosta de ir, mas se tem de ser tem de ser! Essas «transformações» provavelmente não passam de um bom sinal, mas não vale a pena arriscar!
    Isso de ficar mal nas fotos é um mal geral :P não dês grande importância! Se fosses a outra pessoa encontravas imensos defeitos à mesma...
    Não tenhas vergonha de ti, a sério! Espero que no processo de emagrecimento consigas gostar de ti e do que vês no espelho e nas fotos.
    E eu conheço muita gente baixinha que adorava medir mais de 1,70m. É um bom exemplo de uma coisa a que não ligas, mas que pode ser o «desgosto» de outros!
    A comparação com ela ao teu lado também não é muito justa, se estivesses ao lado da mulher mais gorda do mundo parecias mais magra... não te avalies por coisas relativas, se for para comparar que seja contigo própria. Não tens de ser melhor, tens de ser boa - ou o que quer que isso seja para ti :)
    A mudança foi grande, tenho a certeza, não deixes isso desmotivar-te! Não podes deixar que uma comparação assim te deite a baixo, continua a lutar para ficar da maneira que queres mas sem odiar a maneira de que estás.
    Eu acho que toda a gente tem um certo grau de dismorfia... Não sabia que tinha nome, «gordurexia», mas tenho a certeza de que há pessoas que se olham ao espelho e fantasiam alguém mais bonito/magro do que é, assim como há o contrário. Acho que dá para notar que algumas pessoas têm algumas ilusões, quer seja de uma imagem pior quer seja de uma imagem melhor. Quando é assim é difícil ter uma noção adequada...

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    1. Com certeza são ampliadas pelas incertezas. Já minha altura, essa eu adoro, Avelã! :) Só me falta mesmo ser magra.

      Você tem razão. Me lembra o quanto já desfrutei de estar ao lado de pessoas mais gordas É tudo comparativo.

      Muito obrigada pelas tuas palavras! :) Um beijo.

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  9. oi.. eu tb estou me descobrindo,,,ossinhos, músculos, novas expressões,,,,isso é mt bom, né? estou começando um blog, se puder dá uma passadinha lá....bjo http://missbalzac.blogspot.com.br/

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  10. Pra variar você arrasando e acertando em cheio o dilema de muitas pessoas!
    Todo mundo já sofreu desse mal duplo: o primeiro de não se enxergar gordo e o segundo de se enxergar gordo demais perto de outras pessoas.
    Mas, lembre-se, o que nos faz querer continuar é justamente VER essas coisas e ver o quanto evoluímos! Pode parecer narcisista demais, mas não é. É só uma automotivação!
    Tô contigo, nessa!
    Beijo!

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  11. Menina, quanta coisa incomum, eu acho que também tenho essa tal da anorexia invertida e só percebo que ainda estou gorda quando tiro foto com alguém magrinho e é ai que me sinto um monstro tb =/.
    Mas vamos que vamos com fé em Deus e força de vontade alcançaremos nossos objetivos.

    www.belezzaemharmonia.com.br

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    1. Nossa, colocar a gente do lado dos magrelos é a pior coisa, né? :| Tenso.

      Mas vombora! :) Torço por nós, lindona! Beijo

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